...hoje é dia 8 de janeiro

 

A caminho do Areeiro numa qualquer rádio ouvi a locutora anunciar: “hoje é  dia 8 de janeiro…” e de repente veio-me à lembrança um longínquo dia de janeiro, precisamente 8 de janeiro, que fazendo as contas deve ter sido  o do ano de 1958.

Nesse dia eu e a minha irmã estávamos em casa da minha avó, as aulas ainda não deviam ter começado e como sempre devíamos ter-nos escapado para lá. Deviam ser umas oito horas da manhã e dado o frio do inverno, ainda estávamos ao quentinho… então o telefone toca, a vovó vai atender: “ a Elvira morreu”!

 

Eu teria os meus 13 anos, a minha irmã 11. Vestimo-nos a correr e a correr fomos as três para casa da minha mãe.

Não sei como descrever a sensação de perda. A Elvira (Bia como o meu irmão mais novo a tratava) tinha morrido de noite, suavemente a dormir…

 Ela tinha problemas de coração e lembra-me de a ver tomar umas gotas, salvo erro Coramida, mas nada fazia prever que a nossa querida empregada (criada no léxico de então) nos deixasse tão cedo.

 

Ela devia andar pelos cinquenta e poucos, veio com a minha mãe, cedida pela minha avó onde  ajudou a criar a minha mãe e minha tia.  Naquela altura fazia sentido ir ajudar a criar os netos e ajudou, já que lhe passamos os quatro pelos braços!

 

Lembro-me dela como se a tivesse visto ontem, cabelos a ficarem grisalhos apertados a trás num crucho enrolado na nuca. Na altura as empregadas não usavam casaco, então privilégio de outro estrato, mas sim um xaile. Estou a vê-la po-lo para sair à rua, esse era castanho e depois um outro que me lembra ter sido dado pela minha mãe, preto, mas só para aos domingos ir à missa ou às reuniões da Casa de Santa Zita…

 

Lembro-me de como adorávamos subir ao seu quarto e espreitar numa mala (arca) onde tinha os seus parcos haveres, sim porque nessa altura era assim mesmo pois vivendo vidas em casas alheias só tinham o estritamente pessoal…

 

Estava eu a dizer que o meu irmão mais novo me parecia ser o predileto e nesse dia de 8 de Janeiro foi ele que subindo ao seu quarto para gozar mais um bocadinho da sua atenção se deparou com a Bia que não lhe respondeu…

 

Os dias que se seguiram foram de desolação, faltava-nos alguém muito querido em casa e os meus então 13 anos, não eram os 13 anos de uma menina de agora.

 

Essa menina que fui recorda-a ainda hoje com muita saudade!

publicado por naterradosplatanos às 13:43 | link do post