Rua Guerra Junqueiro nº 8

Fui sempre renitente em lá entrar, sempre disse que não gosto de "voltar onde fui feliz" tal como aconselha a canção de Rui Veloso. Porém fui apanhada de surpresa e entrei...
Morei nela toda a minha infância, na altura a casa era acabada de fazer, os quartos estavam pintados de cores suaves: o quarto cor de rosa, o quarto azul, a sala de verde muito claro, o quarto dos meus pais era cor de creme... A casa de banho tinha uma banheira que me parecia enorme e o chão era pintado de vermelho escuro. Todos os compartimentos eram grandes tal como a cozinha. Tínhamos também um terraço que me parecia enorme e que hoje me pareceu muito pequeno...
A casa tinha duas portas uma nas traseiras por onde vinha a leiteira, e outras pessoas que prestavam serviços, era também por ela que passávamos em correria para a liberdade do Toural. O Toural era um lugar vazio onde se faziam três vezes por mês as feiras com todas as atrações que elas pressupunham. Aí os quatro esfolamos muitos joelhos e fizemos algumas malandrices, não esquecer que éramos quatro com pequenas diferenças de idade!



A porta com o nº 8 da Rua Guerra Junqueiro, era a outra porta, a porta das visitas, a porta por onde vinha o correio, a porta por onde entrava e saía o meu pai e eventualmente a minha mãe, nós só a utilizávamos esporadicamente. A ela acedia-se por dois lanços de escada larga, envernizada e com lambrim pintado a tinta de óleo a imitar madeira ( esta é a fotografia atual mas com poucas diferenças das de então!).

Hoje entrando por ela, toda a dimensão que estava na minha mente se esfumou, os degraus não eram tantos assim nem tão íngremes como na altura pareciam às minhas pernas pequenas!
À esquerda a cozinha, à direita a saleta, sítio onde estudávamos e onde a minha mãe mandou por um quadro de ardósia para ela, que nos acompanhava nos estudos, nos explicar algumas coisas. Nela também havia um divã palco de muitas brincadeiras com a "Gaticha", (gato, não gata), que muito nos aturou!
Depois havia, imaginem, o " quarto escuro", aproveitamento de um vão de escadas, que era sempre uma ameaça a um eventual comportamento impróprio.
A cozinha está na mesma, só este frigorífico está noutro lugar... As bancadas são ainda as mesmas e já lá vão 58 anos!

Fui visitá-la com os dois meus irmãos e só conseguíamos dizer uns aos outros: "lembras-te? Lembras-te? Olha aqui, ainda te lembras?" interrogávamos-nos sem cessar.

Saí com nostalgia e relembrei de novo a oportunidade da canção "Nunca voltes ao lugar onde já foste feliz"!
publicado por naterradosplatanos às 19:28 | link do post | comentar