Páscoa
Parece que foi ontem ou parece que foi há séculos?
Não sei bem em que ficar!
Páscoa em Trás-os-Montes, vs Páscoa no Alentejo, Páscoa de mim menina, Páscoa de mim mãe, obviamente duas formas distintas de as sentir... folares diferentes, estranhando-me os segundos, os folares doces de 4 ovos e os lagartos de olhos de feijão frade!
Nunca consegui gostar dos da terra que “adotei” e sempre sinto saudades dos da terra que me viu nascer!
Salgados vs doces!
Folar doce com olhos de feijão frade... (web)
Um dos privilégios de viajar em autogestão é precisamente vermos o que não nos seria mostrado. Assim, para vermos o que não veríamos é meter-mo-nos num transporte público que nos leve à periferia e apreciar o que vai passando aos nossos olhos.
Miami tem um sistema de transportes eficiente e muitos são mesmo grátis... não vou explicar aqui porque o Google explica melhor!
Apanhámos o Trolley via Little Havana, os trolleys são grátis e assim uma espécie de autocarros antigos de bancos de madeira que servem por sua vez todas as estações das linhas aéreas que cruzam Miami.
A direção era Norte e portanto passaria em Little Havana, bairro cuja dimensão nada tem a ver com os nossos, já que se estende por milhas.
Aqui é outro mundo, um mundo que contrasta em tudo com o estereótipo que temos de Miami. As casas simples, algumas com aspeto pobre... embora a todas elas lhes tenha sido atribuído um jardim a rodeá-las, esse jardim não o é: a relva ou está seca, ou já não existe! Neles tudo o que parece não servir dentro de casa, acumula-se alí!
Aqui, ao contrário de áreas como Coral Gables, Key Biscayne, North Beach... o comércio é florescente numa mistura de actividades: ao lado da joalharia está a garagem que muda óleo ou pneus, pegada a esta está a frutaria , a loja de brica-bracs, o restaurante de comida ceroula...
Entretanto o trolley chega ao fim da linha, não precisamos de sair... a viagem recomeça no sentido inverso, agora detenho-me em quem entra e quem sai, reparo que nós somos os únicos não hispânicos e que o condutor e os utentes são uma espécie de família alargada - buenos días a todos- diz o velhote que entra apoiado numa bengala e que sairá na paragem mais além para o hospital. Entre eles os passageiros conversam... novo stop e desta vez é o condutor que cumprimenta - buenos días señorita - ela responde com um gracejo fazendo-lhe lembrar a sua carapinha branca...
Apesar da extensão do percurso que no ir e vir demorou hora e meia (os trolley andam de vagar e por vias menos rápidas) reparo que o condutor parece conhecer toda a gente e também só a língua espanhola!
Ao fundo os arranha-céus...
A “família” do condutor...
Começa aí para nós já que por aqui só há duas estações, a das chuvas e a seca.
Talvez a seca se aproxime da nossa Primavera, se bem que aqui não se traduza pelo rebentar das árvores (elas estão sempre verdes) nem pela floração já que as buganvílias e os ibiscus estão sempre a dar novas flores!
Assim, não se sente a renovação, o frio a dar lugar a temperaturas amenas, a chuva a ser cada vez menos frequente...
Enfim, são outras latitudes!
O ibiscus, a flor ex-libras da Flórida
Quando falamos de Miami vem-nos á ideia a o ambiente idílico em que as cenas dos filmes decorrem. Sim, há esses ambientes nas ilhas da baía onde os famosos têm as suas casas... e vista dessa mesma baía, a cidade com os seus arranha-céus, é linda!
Porém vista por dentro, a grande cidade não tem nada de belo, as ruas estreitam-se pelas alturas dos mesmos arranha-céus, há obras permanentes, há buracos, há trânsito... muito trânsito.
Miami não tem ruas bonitas, como tem Londres, Paris ou qualquer capital europeia. Em Miami as lojas chiques que dão “glamour” ás cidades, estão a quilómetros do Centro, no Design District, onde a moda, a arquitetura e a restauração têm o seu apogeu, num verdadeiro concentrado de riqueza!
Assim, porque tudo é longe um carro é indispensável, mesmo que seja para comprar a maior banalidade.
As diversões, passeios de barco, mergulho as águas tropicais, os museus, visitas aqui e ali tudo exige portanto um esforço extremo pela sua lonjura.
Como é a 3.ª vez que aqui estamos e desta vez já com o automóvel entregue, ao contrário das outras duas, apercebemos melhor como as distâncias aqui na cidade são desmesuradas e o que parece, no mapa, estar logo ali, está a quilómetros de distância!
Muita desta gente que aqui vive e que aqui trabalha, terá “quantidade de vida” porque a cidade é próspera, mas certamente essa vida não terá qualidade!
Coral Gables pertence à Grande Miami e George Merrick que a planeou (1920) fê-lo com o sentido do belo e harmonioso, quiçá até com alguma fantasia!
Como todas as cidades da América, Coral Gables obedece ao plano quadriculado de ruas largas, já que aqui na América espaço nunca foi problema. Nela se construíram casas do tipo mediterrâneo, Merrick achava que as casas com essa arquitetura eram as que melhor se adaptavam a este clima tropical. Assim, ainda podemos ver algumas, nesse estilo meridional, construídas em calcário... hoje, as casas de traçado americano, térreas e rodeadas de jardins, substituíram algumas dos primórdios, mantendo no entanto a cor ocre rosado, tão característico do sul de Espanha...
Merrick era genuinamente americano, nascido na Pensilvânia, mas a sua paixão por esse estilo levou-o a replicar alguns elementos do país que ainda no sec.XIX era dono destas terras!
Também aqui muitas ruas têm nomes associados a Espanha, Sevilla Street, Granada Street, Segovia Boulevard, Alhambra Circle... que se misturam com as ruas de nomes em inglês. As gentes que nos servem condizem... o espanhol é a língua que aqui se fala e muita da gente não fala ou fala o mal inglês, assim se justificando que tudo o que se escreve venha nas duas línguas, anúncios, avisos, informações... é assim um mundo bilíngue.
Porque digo eu “don’t miss Coral Gables”? Porque o ambiente tropical reproduzido nos jardins das suas áreas residenciais nos fascina. Áreas onde não há passeios, nem passadeiras... e para quê? Quem lá mora vai e vem de carro, quem lá mora não usa as ruas porque lá não há lojas, não há serviços... só as habitações, as árvores frondosas, os jardins impecáveis!
A natureza aqui é tão pródiga que deixa que orquídeas nasçam no tronco das palmeiras ou de uma qualquer árvore frondosa!
p.s (O Paraíso do Adão e Eva só podia ser tropical!)
... se tem um filho cidadão do mundo pode acontecer encontrar-mo-lo
por aí! Foi o que aconteceu hoje aqui em Miami...
Vindos de Fort Lauderdale, estrada em obras, congestionamento do trânsito... ouvem-se sirenes da polícia, 3 carros aparecem como que do nada e bloqueiam o outro lado.
Dois matulões saem de um deles e dirigem-se para uma paragem de autocarro onde uma velha negra carregada de sacos estava sentada. Uma “homeless” carregando todos os seus pertences? Muito provavelmente sim. Porquê tanto aparato? Porque possivelmente alguém que de carro por ali passou ligou o 911 e avisou que na dita paragem viu pacotes, embrulhos...
Aqui apela-se aos cidadãos, que se apercebam de algo suspeito, que liguem o número, afirmando que todos os casos serão investigados.
Talvez o medo latente desse alguém a isso o levasse e provavelmente nem na velha negra tenha reparado!
Quando o trânsito recomeçou ainda dois dos polícias a rodeavam... e as luzes das sirenes continuavam num flash ameaçador...
Fort Lauderdale é uma praia chique, de hotéis de luxo de formas que muitas vezes apelam aos grandes navios de cruzeiro que daqui saem. De qualquer das formas nada se compara ao ambiente “friendly” de Hollywood Beach, talvez pela a sua cota parte na Ocean Drive que a divide do casario...
Em 2012, portanto há seis anos atrás, estivemos aqui pela primeira vez e nessa altura presenciei um encantador momento que deixei aqui
http://noareeiroeporai.blogs.sapo.pt/2012/03/04/
Talvez o romantismo me levasse a lá querer voltar, mas obviamente cenas destas não se repetem... só a mesma praia lá estava!