No Areeiro… não dei pela Páscoa na cidade!

 

 

 

 

 

As ruas estavam vazias e nada vi de alusivo à época se excetuarmos as dezenas de ovos de chocolate enfileirados nas prateleiras do supermercado!

 

Como as padarias, no sentido antigo da palavra, já praticamente desapareceram, com elas desapareceram os “lagartos” de bolo finto com lacinho de fita de embrulho ao pescoço e olhos feitos com dois feijões frade!

 

Todas as Páscoas lá apareciam, tal como os folares de dois ou quatro ovos, folares estes que com grande desilusão minha (quando cá cheguei) não tinham nada a ver com o folar transmontano. Estes, são de bolo doce, o chamado “bolo finto” que leva açúcar, canela e erva-doce e na massa do qual se enterram ovos inteiros e que depois, obviamente, saem cozidos. Não acho muito feliz a combinação do doce do pão com o ovo endurecido e frio, mas é/era a tradição e nos tempos difíceis do Alentejo deveriam parecer um manjar!

 

Quanto aos ditos “lagartos” só na forma diferiam do “folar de ovos” , nestes o ovo estava metido na boca do dito" animal". Algumas vezes foram oferecidos aos meus filhos, então miúdos, mas não é que nem eu nem eles conseguimos comer nenhum!? Acho que era a forma como o ovo estava na boca do lagarto que nos impressionava…

 

A Páscoa pelo menos para estes lados está desaparecida mesmo pensando que pelo Alentejo ela não tinha o vigor da tradição do Norte.

 

Por esta altura a Norte as mimosas estavam floridas e floriam também as jarras lá em casa e nessa altura não me lembra que alguém falasse em alergia ao polen! Depois havias as procissões, e os anjinhos que nos fascinavam e dos quais eu e a minha irmã ainda lhe vestimos a pele, melhor, o fato e as asas que inevitavelmente iam sempre tortas... Também pela Páscoa tínhamos sempre um vestido novo, de “bual de lã” (adequado à meia estação) e sapatos novos, estes normalmente dados pela minha querida avó. 

Se o tempo o permitia e a Páscoa era na rua, lá estávamos nós a brincar ao “jogo do cântaro” com as meninas da vizinhança…

 

Esqueci-me, e no auge de falar da “não Páscoa” abri o baú das recordações o que rarissimamente faço e que apesar de lá dentro só estarem boas recordações ( se excetuarmos a perda dos avós) eu nunca o quero abrir… Estranho dirão, mas lembrar o que já não voltará a acontecer de novo, também pode doer e ao fim e ao cabo todos nós, se pudermos, evitamos a dor…

 

Tudo isto acontecia há mais de cinquenta anos atrás.

 

 

 

p.s. as fotografias foram tiradas da internet mas como estavam muito pequenas, ao aumentá-las perderam um pouco a nitidez, mas dá para ver do que falo.

 

 

 

publicado por naterradosplatanos às 19:20 | link do post | comentar