E por aí… vidas difíceis!

 

 

     

 

  

Ontem “ancoramos” em Mira…hoje, logo pela  manhã subimos a duna que nos separava do mar, o mesmo mar encapelado que ontem deixei aqui, o céu estava escuro e ameaçava chover…

 

Tínhamos andado um pouco sobre a areia quando ao longe vislumbramos uma pequena multidão e muitas centenas de gaivotas rodopiando no ar.

Apressamos o passo e então deparamo-nos com algo que nunca tinha presenciado ao vivo, o puxar de uma rede carregadinha de peixes que aprisionados na malha fina pareciam cor de prata…

 

Em roda a azáfama era grande, uns retiravam-nos para os caixotes de plástico, enquanto outros os passavam por água separando-os: robalos para um lado, pargos para outro, linguados, sardas, raias, ora para a caixa amarela ora para outra igualmente colorida … o grosso era de carapaus pequenos e algumas sardinhas.

Com eles vinham minúsculos caranguejos e que eu visse três enormes alforrecas que atiradas para o lado rapidamente pareceram dissolver-se na areia. Porém havia algo mais que estava deslocado dentro daquela rede, exatamente, no meio de toda aquela prata estava… uma garrafa de água, plástica!!!

 

Ninguém, tenho a certeza, deu por nós e assim pudemos apreciar as conversas que se iam desenrolando… a rede de arrasto tinha sido lançada na noite anterior (não sei porquê mas parece que durante a noite a pesca é mais compensadora) e aquela hora, 10h da manhã, a tinham então trazido. Não senti descontentamento com o resultado, mas agora quando escrevo senti que podia ter perguntado se a faina tinha sido compensadora, mas não o fiz e tenho pena!

 

Entretanto avançamos no nosso passeio pela areia molhada… mais ao longe vejo agora um barco, um pequeno barco colorido que tenta entrar no mar cortando as ondas que não se mostravam fáceis. Nele vão apenas dois homens e dois remos e não fora o impulso dado por um trator que ali estava para o efeito, dificilmente o teriam conseguido.

Antigamente esse contrariar do mar era feito por muitos braços, tal como o retirar da rede era feito por uma junta de bois, era a arte da Xavega…

Hoje está lá o trator mas a vida desta gente continua a ser difícil e o risco permanente.

 

Apreciem o mar batido e o céu cor de chumbo a ameaçar tempestade… o bote, dois homens e dois remos  a desafia-lo.

 

E não são estas vidas difíceis? 

 

 

 

 

 

 

publicado por naterradosplatanos às 10:04 | link do post | comentar