Caixa de costura
Tinha eu uns doze anos quando a minha avó recebeu esta caixa de costura enviada pela minha tia então professora, na então Lourenço Marques.
Para nós meninas de província e que ainda não tínhamos andado pelo mundo, numa cidade onde a televisão ainda não chegava e onde demorariam, aí umas cinco décadas, a chegar as lojas dos chineses, a caixinha fez os nossos encantos!
Enquanto foi novidade não perdíamos a oportunidade de espreitar para dentro e corrermos os dedos nas incrustações de jade e madrepérola... Depois, claro, perdemos o interesse e durante anos lá esteve no móvel da salinha da minha avó...
Os anos passaram e sem se dar por isso a caixinha de costura passou então a ser o encanto da sua bisneta que com a mesma curiosidade a espreitava, passando agora ela os dedinhos pelas mesmas figuras que, muitos anos a trás tinham feito os encantos da sua mãe...
A caixinha de costura era tão cobiçada por ela que um dia a minha avó resolveu dar-lha. Assim a trouxemos para o Areeiro e onde até hoje tem estado. Digo até hoje porque a minha filha resolveu dela tomar posse. Fiquei contente por isso já que a ela pertencia.
Recebe-a com coisas ainda guardadas pela mão da minha avó: botões, (imensos) guardados porque podiam fazer falta, amostras de rendas, a caixinha de comprimidos Saridon que contêm ainda as agulhas por ela envolvidas em pó de talco... em baixo havia bocadinhos de tecidos, rolinhos de linha, pequenos novelos de lã...
Evitei esforçadamente pensar nela... pensar na minha avó, embora passados 22 anos ainda me faz morrer de saudades!