Para memória futura...
Nunca pensei que numa tão pequena ilha (apenas 27km comprimento por 14km de largura) houvesse tantos automóveis! Velhos, de meia-idade e novos topo de gama. Estes últimos não sei onde exercerão a sua potência pois dificilmente se poderá andar a mais de 80km/h. Talvez na estrada para o aeroporto!
O único transporte coletivo são os autocarros e os "ferry" para Gozo. Hoje em dia são modernos autocarros, muito frequentes e para todo o lado. O bilhete é único, 1.5€ e dura duas horas o que significa que com 3€ se pode dar volta á ilha e ainda parar pelo meio.
Aqueles autocarros que tanto encantaram a Patrícia e que eram também um ícone da ilha, só já existem em postais como este.
Tenho a certeza que ela vai ter pena, mas 20 anos passaram e o progresso tem destas coisas...
O que negativamente impressiona é o caos urbanístico de alguns lugares, como ontem disse. Outra coisa que não esperava era a dimensão das áreas urbanas que devem quase suplantar aquilo a que chamamos campo. Manchas enormes de casario que vai do litoral até ao meio da ilha, isto a norte e a leste. Também se assinala que há um único arranha-céus provavelmente necessário para encabeçar as antenas de telecomunicações que tem no topo, o resto dos andares são escritórios.
Acho que já disse que não há praias, a única que vi seria do tamanho da do Estoril! A ilha é turística mas em duas voltas à ilha não vi "resorts" como eu os entendo, vi sim vários complexos inacabados, alguns deviam permanecer assim há longo tempo dado o seu aspeto. Quase toda a costa é em arriba ou com uma plataforma absolutamente rochosa onde nenhuma areia se depositou. Assim se compreende que os barcos de refugiados rumem a Lampedusa e não a Malta que também tão perto está do Norte de África.
Aqui a água, ou melhor, a falta dela é um dos principais problemas da ilha pois chove pouco e ás vezes quando acontece é tão torrencial que não dá hipóteses de infiltração que enriqueça os lençóis freáticos, provocando grandes deslocações de terra.
Portanto como a água é escassa, não há jardins, muito menos relvados, apenas canteiros onde flores adequadas à pouca água, se alinham. Árvores poucas e mesmo poucas palmeiras...
Não se vêm animais no campo, nem mesmo cabras que hipoteticamente dão o queijo que aqui se vende com o nome de " Maltese cheese"!
Como disse o maltês é a língua oficial a par do inglês mas constatei no autocarro que o comum das pessoas fala maltês entre si embora rapidamente passem ao inglês se necessário.
Num artigo o "Times of Malta" referia que é necessário incentivar a publicação de livros em maltês sobre tudo para as crianças mais pequenas, livros de frases simples e desenhos apelativos para as introduzir na aprendizagem da língua escrita. O mercado é limitado e daí a dificuldade. E quem fala maltês a não ser os quatrocentos e tal mil malteses? E quantos desses serão crianças?
Foram uns dias muito interessantes. Em Malta vi consubstanciado, numa pequena ilha, tudo o que aprendi há longos anos, nas aulas do Professor Orlando, sobre o Mundo Mediterrâneo: os invernos suaves, a agricultura que ele chamava de " jardinagem" nos terrenos de "terra rossa" entre muros que resultaram do arrumar das pedras que semeavam as pequenas parcelas...
Depois as casas sem telhados com a sua cor de areia recortando-se num céu azul mesmo num dia de inverno, que mais parecia verão!