Diários do nada(24): finalmente...
Finalmente chegou e todos estaremos de acordo que é abençoada!
As crianças foram-se: os mergulhos, as bombas, as corridas em volta da piscina... acabaram.
O Areeiro ficou assim como esta bola... solitário!
Durante a viagem de ontem vim refletindo no facto de sentir que não tenho raízes!
A cidade que me viu nascer, viu-me deixá-la aos 17 a caminho da faculdade, depois a cidade que me "deu" um curso teve-me 5+ 5 anos, depois veio o Alentejo que me "tem" há 42 , porém sem nunca ter conseguido nela lançar verdadeiras raízes.
Meditando sobre isto concluí que na realidade eu só tenho aqui uma única raiz que me prende, a minha casa, aqui no Areeiro!
Pudesse eu transplanta-lá como faço com as árvores do meu pomar e eu não estaria aqui... ingratidão para esta cidade dirão. Sim, pois foi nela que passei dos dias mais felizes da minha vida: exercí a profissão que me preenchia, aqui criei os meus filhos sem preocupações, primeiro na pacatez da Praceta, depois no Areeiro. Tudo estava a dez minutos de casa, a escola, o colégio, a fábrica... e isso contribuiu para a vida calma que levámos - assim uma espécie de linha reta onde tudo era mais ou menos previsível.
A escola acabou, a fábrica também, ficaram os conhecidos mas estes não contribuiram para criar raízes...
Assim temos apenas uma raiz que sendo tão forte nos mantém aqui, essa raiz é a nossa casa!
Hoje o dia foi daqueles que apelidam de "dia de bruxas" dias em que ora o céu está de um escuro violáceo, ora o sol brilha espreitando por entre as nuvens que sobem até à estratosfera, os chamados cumulonimbos, como tantas vezes ensinei aos meus alunos...
Os aguaceiros fortes e gelados, que hoje mais pareciam de neve, também lhe são característicos.
É nestas circunstâncias de tempo atmosférico que a luz do sol se refrata e decompõe em " mil (7) cores" nas gotículas suspensas na atmosfera, aparecendo então os arco-íris.
Hoje, este visto de longe, "nascia" no Areeiro... onde terminava não sei!
Depois de dez dias por aí, aqui estamos de novo no Areeiro. O jardim estava muito "queixoso", a relva estava com um palmo, as petúnias secas pendiam já sem cor, folhas de outono arrastadas pelo vento acumulavam-se nos cantos... Isto do lado do olival que se estende para lá dos muros porque, do lado da frente estava como vêem
A buganvília continua exuberante até que os dias de chuva a dispam das flores...