A síndroma da Menina dos Fósforos
Era miúda mas já sabia ler o suficiente e compreender o que lia. Como sempre durante a nossa infância quem providenciava as nossas leituras era a minha tia e madrinha. Assim por ela chegou às nossas mãos o livro de capa cartonada "Os contos de Anderson" da Coleção Azul. Entre outros contos havia um intitulado " A Menina dos Fósforos", um conto triste, tão triste que me lembro de quanto eu chorei ao "visualizar" as cenas nele descritas. Provavelmente a maior parte tê-lo-á lido quando criança mas para quem já não se lembrar aqui fica o resumo: "Era véspera de Ano Novo, já noite uma menina mal vestida percorria as ruas da cidade, a neve caía... Na mão trazia umas caixas de fósforos que teria de vender antes de chegar a casa. Mas quem a essa hora lhas compraria? O escuro e o frio fizeram-na abrigar-se num canto da rua... Um após outro foi acendendo os fósforos que fugazmente lhe aqueciam as mãos, a certa altura a cada fósforo que acendia sucediam-se cenas de Natal no conforto das lareiras, das mesas recheadas de iguarias, de árvores de Natal abrigando presentes...e crianças rindo e brincando por todo o lado! Risca o último fósforo que lhe resta e é então que uma face lhe sorri. Sente que a toma nos braços... reconhece a sua avó que a aperta contra si e então tudo se esfuma... No dia seguinte os primeiros transeuntes encontram aninhada num canto da rua nevada uma menina já sem vida!" Que tem isto a ver com o título do meu post? Obviamente que não foi este conto, longinquamente lido, que tem a ver com o facto de sempre me sentir desconfortável em tempo de Natal. Quando me perguntam porque me sinto deprimida nestes tempos que se convencionou serem de pura alegria eu respondo: porque nesta época os felizes são mais felizes enquanto que os infelizes são igualmente mais infelizes... Os que estão no limbo entre estas duas situações, esses serão felizes apenas momentaneamente!